BRASIL COLÔNIA
AS GRANDES NAVEGAÇÕES
As grandes viagens marítimas dos
séculos XV-XVI foram uma continuação natural do renascimento do comércio na
Europa, iniciado ainda na Idade Média. Esse renascimento deu origem ao
capitalismo, cujo elemento impulsionador é o lucro. Era natural então que,
esgotadas as possibilidades de desenvolvimento comercial na Europa, novas
regiões passassem a ser exploradas, mesmo à custa de muito esforço e
sacrifício.
Entre os fatores que motivaram as
grandes navegações marítimas, o principal foi sem dúvida a busca de lucros pela
burguesia comercial e financeira da Europa. Por isso, a burguesia europeia
investia vultosos recursos para armar esquadras, remunerar tripulações, para
financiar, enfim, as expedições oceânicas. Neste mesmo sentido, foi importante
também o apoio de alguns monarcas, com os de Portugal e Espanha, que
partilhavam os lucros dos empreendimentos comerciais.
As navegações portuguesas
Como vimos, Portugal foi o primeiro país
a empreender sistematicamente a navegação atlântica. Mesmo antes do bloqueio do
Mediterrâneo pelos turcos, os portugueses já haviam iniciado a exploração das
costas da África.
Sem dúvida, a posição geográfica de
Portugal contribuiu para o seu pioneirismo. Com todo o litoral voltado para o
Atlântico, o país tinha nas atividades marítimas uma importante base econômica:
a pesca ocupava boa parte de sua população e seus portos serviam No entanto, esse
não foi o principal fator do pioneirismo português nas grandes navegações. O
mais importante foi o fato de Portugal ter um governo forte, centralizado na
pessoa do rei, e cujo interesse fundamental eram as atividades comerciais. A
partir da Revolução de Avis, a vida política portuguesa passou a girar em torno
do rei. E os reis da dinastia de Avis, conduzida ao trono com o apoio dos
comerciantes, empenharam-se principalmente em levar adiante empreendimentos de
natureza essencialmente comercial de escala para os navios que faziam o
percurso de ida e volta entre o Mediterrâneo e o mar do Norte.
Também contribuíram para o êxito
português os estudos desenvolvidos em Sagres, no sul de Portugal. Ali, o
Infante Dom Henrique, filho do Rei Dom João I, reuniu numerosos pilotos,
cartógrafos e astrônomos, cujos trabalhos favoreceram o avanço da arte de
navegar e impulsionaram a expansão marítima portuguesa.
DESCOBRIMENTO DO
BRASIL
Pouco depois do retorno de Vasco da
Gama a Portugal, o Rei Dom Manuel, o Venturoso, mandou organizar uma esquadra
com o objetivo de garantir a supremacia portuguesa na Índia. Outra finalidade
da expedição era difundir a religião cristã entre os pagãos.
A esquadra, a maior até então
organizada em Portugal, era composta de treze navios e tinha uma tripulação de
aproximadamente 1200 homens. Para comandá-la, o rei escolheu Pedro Álvares
Cabral, fidalgo de uma das mais tradicionais famílias portuguesas.
Cabral partiu de Lisboa no dia 9 de
março de 1500. Em 22 de abril de 1500, tendo-se afastado, para oeste, das rotas
estabelecida por Vasco da Gama, avistou terra. Não se sabe ao certo o que teria
levado Cabral a se afastar da rota estabelecida. Alguns autores admitem que ele
teria instruções de Dom Manuel para procurar terra no lado ocidental do
Atlântico. O estabelecimento da linha de Tordesilhas -- recuada para oeste, em
relação à da bula Inter Coetera, por insistência de Portugal -- reforça essa
hipótese, pois parece indicar que os portugueses suspeitavam da existência de
terras no Atlântico Sul. No entanto, a escassez de documentos sobre o assunto
impede que se afirme categoricamente a intencionalidade ou não do
descobrimento.
EXPLORAÇÃO
DO LITORAL BRASILEIRO
A primeira exploração do litoral do
território descoberto foi feita pela própria esquadra de Cabral, que seguiu
paralelamente à costa em direção norte, procurando um porto onde os navios
ficassem abrigados. O lugar escolhido recebeu o nome de Porto Seguro e hoje se
chama baía Cabrália, localizada no atual estado da Bahia.
Durante uma semana os
portugueses ficaram na região -- batizada de Ilha de Vera Cruz--- e mantiveram
alguns contatos com os habitantes. Para assinalar a posse da terra, Cabral
mandou erguer uma cruz com o brasão do rei de Portugal. O nome Ilha de Vera
Cruz foi substituído por Terra de Santa Cruz, mais tarde abandonado em favor do
nome Brasil, que se tornou definitivo.
No dia 2 de maio, a esquadra retomou
seu caminho para a Índia. Um dos navios, comandados por Gaspar de Lemos, foi
enviado de volta a Portugal. Levava a notícia dos acontecimentos e várias
cartas, entre elas a de Pero Vaz de Caminha, que relatava a viagem e o
descobrimento da nova terra. Antes de realizar a travessia do Atlântico, esse
navio explorou parte do litoral ao norte de Porto Seguro.
A
expedição de Martim Afonso de Souza
Martim Afonso de Souza
Em 1530, Dom João III enviou ao
Brasil a expedição de Martim Afonso de Sousa, cujos principais objetivos eram
verificar a existência de metais preciosos, explorar e patrulhar o litoral e
estabelecer os fundamentos da colonização do Brasil. Martim Afonso tinha
poderes para nomear autoridades e distribuir terras às pessoas que quisessem
permanecer aqui para desempenhar essa missão.
Martim Afonso percorreu quase todo
o litoral brasileiro. De Pernambuco, enviou dois barcos para explorar o litoral
norte; organizou expedições rumo ao sertão, partindo de Cabo Frio e de
Cananéia; chegou até a foz do rio da Prata e depois retornou ao litoral
paulista, onde fundou a vila de São Vicente (1532). Ali se organizaram alguns
povoados, iniciou-se o plantio da cana e foram construídos os primeiros
engenhos da colônia. Começava assim a colonização efetiva do Brasil, apoiada na
produção de açúcar para o mercado externo.
INÍCIO
DA COLONIZAÇÃO NO BRASIL
Além da defesa do território, a
colonização do Brasil teve outra finalidade: transformar a colônia num empreendimento
lucrativo para Portugal.
Durante o reinado de Dom João III
(1521-1557), o comércio português na Índia entrou em crise, em virtude da
concorrência de outras nações européias, principalmente da Holanda e da
Inglaterra. Ao mesmo tempo, as enormes despesas com a montagem e a manutenção
do império português na África e na Ásia -- construção de navios, pagamento de
tripulações, edificação de fortalezas etc. --- arruinaram as finanças do país.
Nessa situação, tornava-se urgente o aproveitamento do Brasil, até então pouco
lucrativo. Por outro lado, os portugueses esperavam encontrar metais preciosos,
incentivados pelas notícias da descoberta de grandes jazidas de ouro e prata na
América espanhola.
INSTALAÇÕES
PRODUTIVAS AÇUCAREIRAS
Engenho
Martin Afonso de Souza trouxe as primeiras
mudas de cana-de-açúcar da ilha da Madeira e instalou o primeiro engenho da
colônia em São Vicente, no ano de 1533. Inaugurava-se, assim, a base econômica
da colonização portuguesa no Brasil.
Os engenhos multiplicaram-se
rapidamente pela costa brasileira, chegando a 400 em 1610. A importância
econômica do açúcar como principal riqueza colonial evidencia-se no valor das
exportações do produto no período do apogeu da mineração (século XVIII):
superior a 3000 milhões de libras esterlinas, enquanto a mineração, na mesma
época, gerou um lucro de cerca de 200 milhões.
A produção do açúcar voltava-se
exclusivamente para a exportação e, por gerar elevados lucros comandava a
economia colonial. Outra lavouras desenvolveram-se na colônia, mas geralmente
apresentavam um caráter complementar e secundário. À produção canavieira
destinavam-se as melhores terras, grandes investimentos de capital e a maioria
da mão-de-obra.
O responsável pela produção -- o
senhor de engenho -- usufruía de enorme prestígio social. Sobre um latifúndio
monocultor, escravista e exportador, um padrão de exploração agrícola
denominado plantation, assentava-se a agricultura brasileira no início da colonização
de nosso território.
A região Nordeste, destacadamente o
litoral de Pernambuco e Bahia, concentrou a maior produção de açúcar da
colônia.
As unidades açucareiras agroexportadoras,
conhecidas como engenhos, eram compostas de grandes propriedades de terra,
obtidas com as doações de sesmarias pelos donatários e representantes da Coroa
(governadores-gerais) a quem se interessasse pelo empreendimento. A grande
extensão dessas propriedades impediu à formação de uma classe camponesa e o
desenvolvimento significativo de atividades comerciais e artesanais que
pudessem dinamizar um mercado interno, como ocorria em algumas regiões
coloniais da América do Norte.
O engenho, que em alguns casos
chegava a ter perto de 5 mil moradores, era constituído por extensas áreas de
florestas fornecedoras de madeira; plantações de cana; a casa-grande,
residência do proprietário, sua família e agregados e se da administração; a
capela; e a senzala, alojamento dos escravos. A moenda, a casa das caldeiras e
a casa de purgar formavam a fábrica do açúcar, o engenho propriamente dito. O
produto era enviado para Portugal e depois para os Países Baixos, onde era
refinado e comercializado.
ESCRAVOS
NA SOCIEDADE AÇUCAREIRA
Diversos fatores determinaram a
generalização do trabalho escravo africano no Brasil, a partir do final do
século XVI, ao mesmo tempo que a mão-de-obra nativa deixava de ser opção
viável. Epidemias adquiridas em contato com os brancos, mortes pelo trabalho
forçado, desarticulação de sua economia de subsistência, fugas para o interior
marcavam os povos indígenas.
Além disso, a luta dos jesuítas
contra sua escravização levou os colonos a voltarem seus olhos cada vez mais
para os escravos africanos. Há longo tempo o trabalho já era explorado por
companhias particulares graças ao assiento, direito de explorar o tráfico
negreiro cedido pelo rei, mediante pagamento.
Os negros eram capturados na África
pelos portugueses que, não raramente, promoviam ou estimulavam guerras entre as
tribos africanas para poderem comprar, dos chefes vencedores, os negros
derrotados. Aos poucos, os sobas, chefes locais africanos, passaram a capturar
seus conterrâneos e a negociá-los com os traficantes, em troca de fumo,
tecidos, cachaça, armas, joias, vidros, etc.
Mesmo considerando a diversidade
das cifras, entre os estudiosos, sobre o tráfico de escravos capturados na
África, alguns números finais certamente estão bem próximos do que já se chamou
de "holocausto negro". Os escravos chegavam ao Brasil amontoados nos
porões de navios negreiros chamados tumbeiros, sujeito a condições tão
insalubres pela superlotação e a longa duração da viagem, que a média de mortalidade
era estimada em 20%.
Não seria exagero estimar que o número
de vítimas envolvendo os escravos transportados e os que morreram na luta
contra as incursões brancas chegaria a algo próximo do dobro ou até do triplo
dos africanos deslocados para a América. Calcula-se que, até o século XIX,
entre 10 e 15 milhões de africanos, dos quais cerca de 40% vieram para o
Brasil, foram capturados pelos brancos e deslocados para a América.
APOGEU E A CRISE DO
AÇÚCAR
Durante o século XVI e início do
século XVII, o Brasil tornou-se o maior produtor de açúcar do mundo e o
responsável pela riqueza dos senhores de engenho, da Coroa e de comerciantes
portugueses. Mas foram sobretudo os holandeses que mais se beneficiaram com a
atividade açucareira.
Responsáveis pelas etapas de
refinação e comercialização, segundo estimativas, obtinham a terça parte do
valor do açúcar vendido.
O caráter exportador da economia,
característico do pacto colonial (relação entre metrópole e colônia, segunda a
política mercantilista), foi firmado pela maciça importação de mercadorias europeias,
como roupas, alimentos e até objetos decorativos, para garantir o sustento e a
opulência em que viviam os senhores de engenho do Nordeste. Além disso, a
participação dos holandeses e portugueses no comércio do açúcar foi fator que
desviou a riqueza para as áreas metropolitanas.
Por razões dinásticas, entre
1580-1640, o monarca espanhol Filipe II passou a dominar vastas extensões da
Europa. nesse período, Portugal e suas colônias também estiveram subordinados
ao domínio espanhol.
Uma guerra de independência entre
Países Baixos e Espanha levou os holandeses, conhecedores das técnicas de
refino e comercialização do açúcar, a produzi-lo em suas colônias. Concorrendo
em melhores condições com o produto brasileiro, causaram a queda do preço,
entre 1650 e 1688, a um terço de seu valor. A crise da produção açucareira no
Brasil trouxe prejuízos tanto para a economia portuguesa quanto para a
colonial.
Diante da crise da produção
colonial de açúcar, o rei de Portugal, D. Pedro II (1683-1706), procurou
soluções para superá-la, apoiando-se na atuação de seu ministro, o conde de
Ericeira, que baixou as leis "pragmáticas". Proibiu-se o uso de
certos produtos estrangeiros, a fim de reduzir as importações e equilibrar a
deficitária balança comercial lusa, além de reorientar as atividades produtivas
no reino e nas colônias, com a ajuda de técnicos estrangeiros.
Estimulou-se no Brasil a produção
do tabaco e outros produtos alimentares destinados à exportação, bem como se
intensificou a busca das drogas do sertão. Juntamente com a tentativa de
revitalização da produção açucareira, essas medidas surtiriam efeitos positivos
um pouco mais tarde, já no início do século XVIII, coincidindo com o princípio
da atividade mineradora. Mesmo perdendo a supremacia no conjunto da economia
colonial, o açúcar, que apresentava, nessa fase, uma rentabilidade bem menor
que a de séculos anteriores e concorria num mercado bastante competitivo
continuou a ser o principal produto nas exportações.
CAPITANIAS
HEREDITÁRIAS
A colonização do Brasil, iniciada
em 1530 com a expedição de Martim Afonso de Souza, não foi uma tarefa fácil. Em
1532, Martim Afonso fundou São Vicente, a primeira vila brasileira. No entanto,
um único núcleo de povoamento na imensidade da costa não resolvia os problemas
causados por navios franceses que vinham buscar pau-brasil.
Era necessário povoar rapidamente a
região costeira, mas a Coroa portuguesa não dispunha na época de recursos
humanos nem econômicos para colonizar, em curto prazo, o litoral brasileiro.
Por isso, a partir de 1534, o governo português resolveu iniciar no Brasil um
processo de colonização que já havia sido aplicado, com muito sucesso, na ilha
da Madeira e nos Açores: a divisão da terra em capitanias. Dessa forma, a Coroa
portuguesa pretendia ocupar o território brasileiro e torná-lo uma fonte de
lucros.
As capitanias eram imensos lotes de
terra que se estendiam, na direção dos paralelos, do litoral até o limite
estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas. Esses lotes foram doados em caráter
vitalício e hereditário a elementos pertencentes à pequena nobreza lusitana. Os
donatários tinham de explorar com seus próprios recursos as capitanias
recebidas.
Ao doar as capitanias, a Coroa
portuguesa abria mão de certos direitos e vantagens, em favor dos donatários,
esperando com isso despertar seu interesse pelas terras recebidas. A Carta de
Doação e o Foral garantiam os direitos do capitão donatário.
* Pertenciam-lhe todas as salinas, moendas
de água e quaisquer outros engenhos da capitania.
* Podia escravizar índios em número
indeterminado, mas devia enviar 39 para Lisboa, anualmente.
* Ficava com a vigésima parte da renda do
pau-brasil.
* Podia criar vilas, administrar a justiça
e doar sesmarias, menos para a esposa, para o filho mais velho e para judeus e
estrangeiros. Sesmaria era uma extensão de terra que o donatário doava a quem
se dispusesse a cultivá-la. Ao contrário da capitania, da qual o donatário não
tinha a propriedade (mas apenas o uso), a sesmaria era propriedade do sesmeiro,
após dois anos de real utilização.
O rei reservava para si algumas
vantagens que, na verdade, lhe garantiam os melhores proveitos que a terra poderia
oferecer:
Ø Dez
por cento de todos os produtos da terra;
Ø Vinte
por cento (um quinto) das pedras e metais preciosas;
Ø Monopólio
do pau-brasil, das drogas e das especiarias.
No Brasil, o sistema de divisão da
terra em capitanias não deu bons resultados. A grande extensão dos lotes talvez
a principal razão do insucesso. Sem recursos suficientes, os donatários só
conseguiam fundar estabelecimentos precários na região costeira dos lotes que
recebiam; não tinham condições de tentar a colonização do interior.
A enorme distância que separava as
capitanias da metrópole, de onde vinham os recursos necessários para a
sobrevivência dos núcleos iniciais, dificultava ainda mais a colonização.
As capitanias de São Vicente e de
Pernambuco, apresentaram resultados melhores do que as outras. O sucesso dessas
capitanias se deveu ao êxito da cultura canavieira e da criação de gado.
Com o passar do tempo, as
capitanias foram revertendo ao governo português. No século XVIII, quando
Portugal era governado pelo Marquês de Pombal, o sistema foi totalmente
extinto. Os limites das capitanias sofreram modificações, mas determinaram os
contornos gerais das províncias do Império que se limitavam com o Atlântico;
estas, por sua vez, deram origem aos Estados litorâneos do Brasil atual. Os
estados do interior tiveram origem diferente.
GOVERNO DE TOMÉ DE
SOUZA
Tomé de Souza foi escolhido por Dom
João III para ser o primeiro governador-geral do Brasil.
Chegou em 29 de março de 1549,
acompanhado por mais de novecentas pessoas, entre soldados, colonos a
degredados. O governador trazia ainda material para iniciar a construção da
primeira cidade, além de algumas cabeças de gado. Estes foram os principais
fatos da administração de Tomé de Souza:
Ø Início
das atividades dos jesuítas no Brasil. O primeiro grupo de missionários
jesuítas chegou com o governador e era chefiado pelo padre Manuel da Nóbrega;
Ø Fundação
de Salvador, a primeira capital do Brasil, em 1549;
Ø Criação
do primeiro bispado brasileiro.
Ø Visita
às capitanias do sul, onde o governador considerou aprovada a fundação da vila
de Santo André da Borda do Campo, feita anos antes por Martim Afonso de Souza,
e proibiu que os missionários se instalassem no sertão (medida que se revelou
inútil). As duas atitudes do governador relacionavam-se com o fato de a
capitania de São Vicente ser considerada um ponto estratégico por sua
proximidade com as terras espanholas, com as quais inclusive, os vicentinos
mantinham muitos contatos.
Ø Criação
das primeiras fazendas de gado.
Foi muito importante para o
primeiro governo-geral a ajuda recebida do português Diogo Álvares Correia, o
Caramuru, bem como o trabalho dos jesuítas. Diogo Álvares vivia entre os
indígenas da Bahia desde 1510 e desempenhou importante papel como intermediário
entre os portugueses e os índios. Os sacerdotes da Companhia de Jesus, sob a
chefia de Nóbrega, fundaram em Salvador, o primeiro colégio do Brasil. Os
jesuítas penetraram no sertão, empenharam-se na catequese dos índios, fundaram
escolas para os filhos dos colonos e procuraram impor aos portugueses as normas
da moral cristã no relacionamento com os indígenas. Assim, tentaram impedir a
escravização de índios e a exploração sexual das mulheres indígenas pelos
colonizadores.
GOVERNO DE DUARTE DA
COSTA
O segundo governador-geral, Duarte
da Costa, chegou ao Brasil em 1553, trazendo 250 pessoas, entre elas o noviço
José de Anchieta. Vários acontecimentos marcaram a administração do segundo
governador-geral:
Ø Combate
às tribos indígenas do Recôncavo Baiano.
Ø Expedição
ao sertão, com o objetivo de procurar as tão faladas riquezas minerais,
procedentes das colônias espanholas situadas na região andina.
Ø Incidente
entre o primeiro bispo, Dom Pero Fernandes Sardinha, e o filho de Duarte da
Costa, Dom Álvaro da Costa, que trouxe conseqüências trágicas para o bispo.
Diante das críticas de Dom Pero Fernandes à agressividade e aos maus costumes
de Dom Álvaro, a população de Salvador se dividiu em duas facções: uma
favorável a Dom Álvaro e ao governador; outra favorável ao bispo. Dom Pero
Fernandes foi chamado a Portugal para dar explicações sobre os acontecimentos,
mas seu navio naufragou no litoral de Alagoas e ele foi morto pelos índios
caetés.
Ø Fundação
do Colégio de São Paulo pelos jesuítas, em 25 de janeiro de 1554.
Ø Invasão
do Rio de Janeiro em 1555 pelos franceses, que pretendiam estabelecer uma
colônia naquele local. Como não dispunha de recursos suficientes para
expulsá-los, o governador nada pôde fazer.
GOVERNO DE MEM DE
SÁ
Um dos principais acontecimentos
durante o governo de Mem de Sá, sucessor de Duarte da Costa, foi a expulsão dos
franceses no Rio de Janeiro.
Os invasores tinham estabelecido
relações cordiais com os indígenas, incitando-os contra os portugueses.
Em 1563, os jesuítas José de
Anchieta e Manuel de Nóbrega conseguiram firmar a paz entre os portugueses e os
índios tamoios, que ameaçavam a segurança de São Paulo e de São Vicente.
Anchieta permaneceu cinco meses como refém dos índios de Iperoig, aldeia
localizada onde é hoje a cidade de Ubatuba, no litoral norte do Estado de São
Paulo. A chamada Paz de Iperoig, conseguida pelos dois sacerdotes, permitiu a
sobrevivência do Colégio de São Paulo e a permanência dos portugueses na
região.
Mem de Sá, num primeiro ataque
contra os invasores do Rio de Janeiro, conseguiu destruir o forte Coligny, que
eles tinham construído na ilha de Serigipe, hoje Villegaignon, na baía de
Guanabara. Depois disso, o governador voltou à Bahia. Os franceses, que tinham
conseguido refúgio junto aos índios, seus aliados, retornaram e reconstruíram o
forte.
Em 1º de março de 1565, o sobrinho
de Mem de Sá, Estácio de Sá, fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
A nova cidade tornou-se a base das operações dos portugueses na luta contra os
franceses.
A expulsão definitiva dos franceses
só foi conseguida depois de muitas lutas. Estácio de Sá, com a ajuda de tropas
do governador e da região de São Vicente, derrotou os invasores depois da
batalha do forte Coligny, de Uruçu-Mirim e da ilha do Governador (Paranapuã).
Destacaram-se nos combatentes, lado a lado com os portugueses, os índios
temiminós do Espírito Santo, comandados por Araribóia. Como recompensa, esse
chefe indígena recebeu uma sesmaria na região do Rio de Janeiro, onde fundou a
vila de São Lourenço, que deu nome à cidade de Niterói.
Mem de Sá governou até
1572, ano de sua morte. Dom Luís de Vasconcelos, que havia sido enviado em 1570
para ser o quarto governador, morreu durante a viagem para o Brasil, quando seu
navio foi atacado por piratas franceses.
A REVOLTA DE
BECKMAN
No Maranhão, como em São Paulo, houve
conflitos entre os colonos e os jesuítas por causa da escravização dos
indígenas. Em 1661, por seu trabalho de intransigente defesa da liberdade dos
índios, os religiosos da Companhia de Jesus foram expulsos do Maranhão. Só
puderam voltar, por decisão da Coroa, em 1680.
Nessa
data, o governo português proibiu terminantemente a escravização de índios.
Para resolver o problema da falta
de braços para a lavoura, bem como para controlar o comércio naquela região do
Brasil, o governo português criou, em 1682, a Companhia de Comércio do Estado
do Maranhão, à qual passou a responsabilidade do monopólio da Coroa.
A companhia não cumpriu os
compromissos assumidos, o que despertou grande descontentamento entre os
colonos da região. Os escravos africanos não foram trazidos para o Maranhão em
número suficiente, e os gêneros alimentícios negociados pela companhia, além de
muito caros, não eram de boa qualidade.
Revoltou-se
contra esta situação elementos do clero, da classe mais elevada e do povo,
chefiados por Manuel Beckman, fazendeiro muito rico e respeitado na região. Os
revoltosos expulsaram os jesuítas, declararam deposto o governador e extinta a
companhia de comércio.
Beckman governou o Maranhão durante
um ano, até a chegada de uma frota portuguesa sob o comando de Gomes Freire de
Andrada. Beckman fugiu mas foi delatado por Lázaro de Melo, sendo então preso e
enforcado.
A extinção da Companhia de Comércio
do Estado do Maranhão foi mantida pelo governo português, como queriam os
revoltosos, mas os jesuítas puderam retornar e continuar seu trabalho.
A GUERRA DOS
EMBOABAS
Quando as notícias da descoberta de
ouro em Minas Gerais se espalharam pelo Brasil e chegaram a Portugal, milhares
de pessoas acorreram à região. No livro Cultura e opulência do Brasil por suas
Drogas e Minas, do padre João Antônio Andreoni (Antonil), editado em 1711,
encontramos a seguinte referência ao afluxo de pessoas a Minas Gerais.
"A sede do ouro estimulou tantos a
deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos como são os das
minas, que dificilmente se poderá dar conta do número de pessoas que atualmente
lá estão...”.
O afluxo de forasteiros desagradou
os paulistas. Por terem descoberto as minas e por elas se encontrarem em sua
capitania, os paulistas reivindicaram direito exclusivo de explorá-las. Entre
1708 e 1709, ocorreram vários conflitos armados na zona aurífera, envolvendo de
um lado paulistas e de outro portugueses e elementos vindos de vários pontos do
Brasil.
Os paulistas referiam-se aos
recém-chegados com o apelido pejorativo de emboabas. Os emboabas aclamaram o
riquíssimo português Manuel Nunes Viana como governador das Minas. Nunes Viana,
que enriquecera com o contrabando de gado para a zona mineira, foi hostilizado
por Manuel de Borba Gato, um dos mais respeitados paulistas da região. Nos
conflitos que se seguiram, os paulistas sofreram várias derrotas e foram
obrigados a abandonar muitas minas.
Um dos episódios mais importantes
da Guerra dos Emboabas foi o massacre de paulistas pelos embobas, no chamado
Capão da Traição. Nas proximidades da atual cidade de São João Del Rei, um
grupo de paulistas chefiados por Bento do Amaral Coutinho. Este prometeu aos
paulistas que lhes pouparia a vida, caso se rendesse. Entretanto, quando eles
entregaram suas armas, foram massacrados impiedosamente.
Em represália, os paulistas
organizaram uma tropa de mais ou menos 1 300 homens. Essa força viajou para
Minas com o objetivo de aniquilar os emboabas, mas não chegou a atingir aquela
capitania.
A guerra favoreceu os emboabas e
fez os paulistas perderem várias minas. Por isso, eles partiram em busca de
novas jazidas; em 1718 encontraram ricos campos auríferos em Mato Grosso.
Estas foram as principais consequências
da Guerra dos Emboabas:
Ø Criação
de normas que regulamentam a distribuição de lavras entre emboabas e paulistas
e a cobrança do quinto.
Ø Criação
da capitania de São Paulo e das Minas de Ouro, ligada diretamente à Coroa,
independente portanto do governo do Rio de Janeiro (3 de novembro de 1709).
Ø Elevação
da vila de São Paulo à categoria de cidade
Ø Pacificação
da região das minas, com o estabelecimento do controle administrativo da
metrópole.
A GUERRA DOS
MASCATES
A Guerra dos Mascates foi um
movimento de caráter regionalista cujos principais fatores foram:
Ø Decadência
da atividade agroindustrial açucareira em virtude da concorrência
internacional;
Ø Desenvolvimento
comercial e urbano em Pernambuco;
Ø Elevação
do povoado de Recife à categoria de vila.
Com a decadência do açúcar, a
situação dos poderosos senhores de engenho de Pernambuco sofreu grandes
modificações. Empobrecidos, os fazendeiros de Olinda, pertencentes às mais
tradicionais famílias da época, eram obrigados a endividar-se com os
comerciantes portugueses do Recife, que lhes emprestavam dinheiro a altos
juros.
Os olindenses chamavam os
recifenses de mascates, referindo-se de forma pejorativa à sua profissão. Os
recifenses, por sua vez, designavam os habitantes de Olinda pelo apelido de
pés-rapados, por serem pobres.
Recife crescera tanto desde a época
do domínio holandês que, em 709, o Rei Dom João V elevou o povoado à categoria
de vila. Este fato desagradou os habitantes de Olinda, a vila mais antiga da
capitania, embora mais pobre e menos povoada que Recife.
Em 1710, ao serem demarcados os
limites entre as duas vilas, teve início a revolta. O governador de Pernambuco,
Sebastião de Castro e Caldas, foi ferido por um tiro na perna e, com o
agravamento da luta, fugiu para a Bahia.
Sucederam-se os choques entre
olindenses e recifenses, e a revolta tomou conta de toda a capitania. Com a
nomeação de um novo governador (Felix José Machado de Mendonça), as lutas
acalmaram-se. Em 1714, o Reio Dom João V anistiou todos os que se envolveram na
revolta, restabelecendo a ordem em Pernambuco.
A rivalidade entre brasileiros e
portugueses na capitania continuou a existir, mas só se transformou novamente
em revolta mais de um século depois (1817) e com caráter diferente.
MOTINS DO MANETA
Nos últimos meses de 1711, ocorreram duas sublevações populares na
Bahia. A razão do primeiro motim, chefiado pelo negociante João de Figueiredo
da Costa, apelidado o Maneta, foi um aumento de impostos decretado pelo
governo. A multidão, formada principalmente por portugueses, avançou contra o
palácio do governador Pedro de Vasconcelos e Souza, que atendeu aos pedidos da
massa popular. Todos os participantes da revolta forma anistiados.
Pouco tempo depois, ocorreu outro
motim na Bahia, quando a esquadra francesa do corsário Duguay-Trouin ocupou o
Rio de Janeiro. Os revoltosos queriam a organização imediata de uma expedição
para combater os invasores. O governador Pedro de Vasconcelos conseguiu
contornar a situação até os franceses deixarem o Rio de Janeiro.
REVOLTA DE FILIPE
DOS SANTOS
Na região das minas, o ouro em pó
era utilizado como se fosse moeda corrente. Com a criação das Casas de Fundição
em Minas Gerais, em 1719, a circulação de ouro em pó foi proibida.
As casas de Fundição foram criadas pelo
governo português para evitar o contrabando de ouro e obrigar o colono a pagar
o quinto devido à Coroa. Todo ouro descoberto deveria ser encaminhado a essas
repartições, onde era derretido e, depois de separada a parte do rei,
transformado em barras.
Foi contra essas
condições do governo que ocorreu a revolta de 1720, chefiada por Filipe dos
Santos Freire. A Revolta de Filipe dos Santos foi motivada, portanto, apenas
por fatores econômicos.
Seus objetivos eram impedir o
estabelecimento das Casas de Fundição e manter a legalidade da circulação de
ouro em pó.
Em 28 de junho de 1720 teve início
a revolta em Vila Rica (atual Ouro Preto). Cerca de 2 000 revoltosos
dirigiram-se para Ribeirão do Carmo, atual Mariana, e pressionaram o governador
de Minas, Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar, para que atendesse às suas
exigências. Este concordou com os pedidos dos revoltosos, pois não contava com
forças armadas para enfrentá-los. Assim que conseguiu tropas suficientes, o
governador esmagou a revolta, mandando prender os cabeças do movimento. Filipe
dos Santos foi enforcado (16 de julho de 1720), e seu corpo esquartejado após a
execução.
INCONFIDÊNCIA
MINEIRA
A Inconfidência Mineira foi uma
conspiração que ocorreu em 1789 em Vila Rica, hoje Ouro Preto. Entre os fatores
que determinaram o movimento destacam-se:
Ø Os
excessos cometidos pelas autoridades escolhidas pelo governo português para administrar
a região das minas.
Ø A
decadência da produção de ouro, que se acentuou a partir dos meados do século
XVIII, e o sistema de cobrança dos quintos devido à Coroa. Quando o ouro
entregue não perfazia 100 arrobas (cerca de 1500 quilos), era decretada a
derrama, ou seja, o que faltasse seria cobrado de toda a população, pela força
das armas. Os excessos cometidos pelas autoridades por ocasião da derrama levaram
o povo ao desespero.
Ø As
idéias de liberdade trazidas por estudantes brasileiros que tinham realizado
cursos superiores na Europa.
Ø O
conhecimento da independência dos Estados Unidos, cujos colonos, revoltados
também contra o sistema fiscal de sua metrópole, tinham se libertado da
Inglaterra.
Entre os inconfidentes,
destacaram-se os padres Carlos Correia de Toledo e Melo, José de Oliveira Rolim
e Manuel Rodrigues da Costa; o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de
Andrade, os coronéis Domingos de Abreu e Joaquim Silvério dos Reis (um dos
delatores do movimento); os poetas Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de
Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga.
Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes, era provavelmente o participante da conspiração de menor posição
social (era alferes e dentista prático). No entanto, foi o único a assumir a
responsabilidade pelo movimento. Negando a princípio sua participação,
Tiradentes assumiu posteriormente toda a responsabilidade pela Inconfidência,
inocentando seus companheiros.
Os planos dos inconfidentes eram:
Ø estabelecer
um governo independente de Portugal;
Ø criar
uma universidade em Vila Rica;
Ø criar
indústrias;
Ø fazer
de São João Del Rei a nova sede da capitania.
INCONFIDÊNCIA
CARIOCA
A Inconfidência Carioca teve
características parecidas com o movimento sufocado em Minas Gerais cinco anos
antes. A Revolução Francesa foi a inspiradora dos inconfidentes do Rio de
Janeiro, que fundaram uma Sociedade Literária para a divulgação de suas idéias.
Denunciados, os conjurados foram presos e acusados de fazerem críticas à
religião e ao governo, além de adotarem idéias de liberdade para a colônia.
Entre os inconfidentes cariocas
estavam o poeta Manuel Inácio da Silva Alvarenga, Vicente Gomes e João Manso
Pereira. Durante dois anos e meio, os implicados no movimento frustrado ficaram
presos, sendo depois libertados.
INCONFIDÊNCIA
BAIANA
A Inconfidência Baiana em 1798,
também chamada Conjuração Baiana, teve características bem diferentes das
anteriores, especialmente porque seus participantes pertenciam às camadas
pobres da população.
Os chefes da Inconfidência foram
Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens, que eram soldados, João de Deus do
Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira, alfaiates. A conspiração é por
isso conhecida também como Revolta dos Alfaiates.
Inspirados nos ideais da Revolução
Francesa, os inconfidentes pretendiam proclamar a República.
Em 12 de agosto de 1798, os
conspiradores colocaram nos muros da cidade papéis manuscritos chamando a
população à luta e proclamando idéias de liberdade, igualdade, fraternidade e
República. Foram descobertos e presos e, em 8 de novembro de 1799, enforcados
em Salvador.
REVOLUÇÃO
PERNAMBUCANA
Com a vinda de Dom João em 1808, o
Brasil passou por profundas modificações. Por isso, na época da Revolução
Pernambucana a situação do Brasil era bem diferente da que vivia o país, quando
eclodiram os movimentos revolucionários anteriores a esse.
Os principais fatores
da Revolução de 1817 em Pernambuco foram:
Ø A
independência das colônias espanholas da América do Sul;
Ø A
independência dos Estados Unidos;
Ø As
idéias de liberdade que vinham se propagando desde o século anterior em todo o
Brasil;
Ø A
ação das sociedades secretas, que pretendiam a libertação da colônia;
Ø O
desenvolvimento da cultura em Pernambuco, por influência do Seminário de
Olinda.
O governador de Pernambuco, Caetano
Pinto de Miranda Montenegro, ficou sabendo dos planos dos revolucionários e
mandou prender os principais implicados na conspiração. Estes, então,
anteciparam a eclosão do movimento, que teve início quando o capitão José de
Barros lima (apelidado "Leão Coroado") matou o oficial português
encarregado de prendê-lo.
A revolta estendeu-se rapidamente e
os patriotas tornaram-se senhores da situação, estabelecendo novo governo assim
que Caetano Montenegro partiu para o Rio de Janeiro. Os principais implicados
na Revolução Pernambucana em 1817 foram: Domingos José Martins, Domingos
Teotônio Jorge Martins Pessoa, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, padre João
Ribeiro Pessoa, Antônio Gonçalves da Cruz, José de Barros Lima, padre Miguel de
Almeida Castro, José Inácio Ribeiro de Abreu Lima e outros.
Assim que conseguiram dominar a
situação, os revoltosos organizaram um governo provisório. O novo governo
procurou logo estender o movimento às outras capitanias e obter o
reconhecimento no exterior.
A revolta estendeu-se ao Ceará, à
Paraíba e ao Rio Grande do Norte.
O governo revolucionário
pernambucano durou pouco mais de dois meses. Recife foi cercada por mar e
tropas enviadas da Bahia avançaram por terra, colocando os revoltosos em
situação desesperadora, desmantelando lhes a resistência.
A mudança da família real e da
Corte portuguesa para o Brasil foi consequência da situação europeia no início
do século XIX. Naquela época, a Europa estava inteiramente dominada pelo
imperador dos franceses, Napoleão Bonaparte. Com sua política expansionista,
ele submetera a maior parte dos países europeus à dominação francesa. O
principal inimigo de Napoleão era a Inglaterra, cuja poderosa armada o
imperador não pudera vencer.
Em 1806, Napoleão decretou o
Bloqueio Continental, obrigando todas as nações da Europa continental a
fecharem seus portos ao comércio inglês. Com essa medida, Napoleão pretendia
enfraquecer a Inglaterra, privando-a de seus mercados consumidores e de suas
fontes de abastecimento. Nessa época, Portugal era governado pelo Príncipe
Regente Dom João, pois sua mãe, a Rainha Dona Maria I, sofria das faculdades
mentais.
Pressionado por Napoleão, que
exigia o fechamento dos portos portugueses ao comércio inglês, e ao mesmo tempo
pretendendo manter as relações com a Inglaterra, Dom João tentou adiar o mais
que pôde uma decisão definitiva sobre o assunto.
Se aderisse ao Bloqueio
Continental, Portugal ficaria em condições extremamente difíceis, porque a
economia portuguesa dependia basicamente da Inglaterra. Os ingleses eram os
maiores fornecedores dos produtos manufaturados consumidos em Portugal e também
os maiores compradores das mercadorias portuguesas e brasileiras. A Inglaterra,
por sua vez, também não queria perder seu velho aliado, principalmente porque o
Brasil representava um excelente mercado consumidor de seus produtos.
Para resolver a situação de acordo
com os interesses de seu país, o embaixador em Lisboa, Lorde Percy Clinton
Smith, Visconte de Strangford, conseguiu convencer Dom João a transferir-se com
sua Corte para o Brasil Desse modo, os ingleses garantiam o acesso ao mercado
consumidor brasileiro.
A transferência da Corte era uma
boa solução também para a família real, pois evitava a deposição da dinastia de
Bragança pelas forças napoleônicas.
O Tratado de Fontainebleau,
estabelecido entre a França e a Espanha em outubro de 1807, apressou a decisão
do Príncipe Regente Dom João a abandonar a metrópole. Por aquele tratado,
Portugal e suas colônias, inclusive o Brasil, seriam repartidos entre a França
e a Espanha.
No dia 29 de novembro, Dom João e
sua família, acompanhados por cerca de 15.000 pessoas, partiram para o Brasil.
No dia seguinte, as tropas francesas do general Junot invadiram Lisboa.
Quatro navios britânicos escoltaram
as embarcações portuguesas até o Brasil; parte da esquadra portuguesa aportou
na Bahia e parte no Rio de Janeiro.
A chegada de Dom João à
Bahia, onde ficou pouco mais de um mês, ocorreu em 22 de janeiro de 1808. Teve
início, então, uma nova História do Brasil, pois a colônia foi a grande
beneficiado com a transferência da Corte. A presença da administração real
criou pouco a pouco condições para a futura emancipação política da colônia. Na
Bahia, Dom João seguiu para o Rio de Janeiro. Ali, o alojamento da numerosa
comitiva do príncipe causou grandes problemas. As melhores residências da
cidade foram requisitadas para os altos funcionários da Corte, não sendo poucas
as pessoas despejadas de suas casas para hospedar os recém-chegados.
Em 1810, dois anos após o
estabelecimento da Corte portuguesa no Rio de Janeiro, a Inglaterra renovou
seus tratados comerciais com o príncipe dom João. Beneficiados com esses
tratados, os ingleses aumentaram ainda mais a venda de seus produtos para o
mercado brasileiro. A burguesia portuguesa, ao contrário, viu seus privilégios
se reduziram. No Reino, os portugueses hostilizavam dom João; na Colônia, dirigiam
sua insatisfação contra a elite local.
A relação entre os portugueses
recém-instalados e os brasileiros -- latifundiários e comerciantes --
tornaram-se tensas, pois somente os portugueses tinham acesso aos postos do
governo. Aos brasileiros restava apenas o pagamento dos impostos, usados
basicamente para a sustentação da Corte.
A Coroa era incapaz de contentar
brasileiros e portugueses porque ela mesma estava quase sempre sem dinheiro.
Dom João recorria frequentemente aos empréstimos externos de banqueiros
ingleses.
Esse descontentamento geral levou
um jornal clandestino -- O Correio Braziliense -- a criticar o governo
português.
Mas, apesar de todas as
dificuldades, dom João reurbanizou o Rio de Janeiro, construiu escolas,
bibliotecas e teatros. Trouxe para o Brasil artistas e cientistas europeus, o
que contribuiu para renovar a cultura brasileira.
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