O MUNDO SOB A DOUTRINA BUSH E A
GLOBALIZAÇÃO
Super Bush
Humilhado no próprio território, o governo Bush proclamou o objetivo de
reordenar o mundo para torná-lo mais seguro – do ponto de vista de Washington,
claro. A Doutrina Bush, como ficaria conhecida a
nova orientação estratégica, foi anunciada em setembro de 2002, um ano
após os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono. De acordo com essa
visão, o mundo está entrando numa nova era cujo fator indeterminado é a
esmagadora supremacia militar norte-americana. O orçamento anual de 400 bilhões
de dólares, para gastos militares, aprovado em maio de 2003 pelo Senado
norte-americano, é o maior entre todos os países do mundo. O país conta com uma
superioridade esmagadora em armas nucleares, o domínio absoluto dos céus, a
única marinha capaz de cobrir todos os oceanos e uma capacidade única de
intervir em qualquer parte do mundo, de modo fulminante.
Com base nesse imenso poder de fogo, a Doutrina Bush não
se limita a formar uma resposta ao terrorismo e aos regimes chamados de
“fora-da-lei”, como o do Iraque de Saddam Hussein (antes da invasão) ou da
ditadura comunista da Coréia do Norte. Seu objetivo é
perpetuar uma posição dominante que só encontra paralelo nos grandes impérios
do passado, como o persa e o romano. Os EUA se propõem, abertamente, a impedir
o surgimento de qualquer outra potência capaz de desafiar sua liderança. O
sistema internacional de tratados, normas e organizações multilaterais perde
importância, subordinado aos interesses norte-americanos – por meio da força se
necessário. A palavra de ordem é agir preventivamente contra qualquer inimigo
em potencial, mesmo na inexistência de agressão prévia.
Também faz parte da Doutrina Bush uma nova postura em
relação às armas nucleares. Desde o inicio da Guerra Fria, a bomba atômica era
encarada como um recurso externo para defender o país ou algum aliado contra
outra potencia nuclear. Agora o governo norte-americano se diz no direito de usá-la
em qualquer conflito, mesmo contra nações proibidas de possuir esse tipo de
arma por força do Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual o
Brasil é um dos signatários (país membro).
MUDANÇA NO TOM DO DISCURSO
Há limites
para aplicação do poder norte-americano. No mundo de hoje, as relações internacionais
não são regidas apenas pela força militar. O tom do discurso muda quando estão
em jogo interesses econômicos. Nesse campo os EUA
compartilham o tabuleiro com dois competidores fortes: a União Européia e o
Japão. Em fóruns como o da Organização Mundial do Comércio (OMC), os
representantes de Washington são obrigados a negociar de igual para igual com
os japoneses e europeus. No terreno diplomático, o fracasso em conseguir o aval
da ONU à invasão do Iraque mostra que nem a maior superpotência do planeta
consegue sempre a concordância de todos. Aliados tradicionais, como a França e
a Alemanha, resistem a ser tratados como subordinados. O antiamericanismo
expresso nas grandes passeatas contra a guerra e no boicote aos produtos made
in USA mostra discordância de parte da opinião pública. Fora dos próprios EUA,
é muito difícil encontrar quem se sinta realmente confortável com a idéia do
mundo dominado por um só país.
O PAPEL DA ONU
Os países em
desenvolvimento querem fortalecer a entidade, seu único canal de expressão no
contexto mundial. França e Federação Russa vêem na ONU um freio ao
poderio dos EUA. Todos concordaram em rediscutir o papel do Congresso
de Segurança. Ganha força a proposta de incluir mais integrantes permanentes:
Japão, Alemanha, Irã, Índia, México e Brasil, com cadeira cativa sem direito de
veto. Atualmente os cinco integrantes permanentes são: EUA, Federação Russa,
Reino Unido, França e China. Segundo Richard Perle, um dos conselheiros mais
influentes, afirma que após a guerra contra o Iraque, a ONU teria utilidade
como repartição burocrática encarregada de missões humanitárias em tempos de
paz.
A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA
Na passagem
do século XX para o século XXI todas as pessoas falam em globalização. O mundo parece estar entrando numa
nova era, na qual as velhas fronteiras econômicas e culturais se diluíram.
Em primeiro
lugar, a globalização econômica. Nunca a economia dos países
esteve tão interligada. Quando houve a crise econômica na Ásia e na Rússia em
1999, por exemplo, todos os países do planeta sentiram imediatamente.
Os países não produzem apenas para seus
mercados internos, mas para o mercado mundial. Por exemplo, já estamos nos acostumando a comprar, aqui mesmo no
Brasil, o trigo argentino, o automóvel alemão, a lâmpada canadense, o aparelho
de TV coreano, o filme fotográfico mexicano, a camiseta chinesa, o disco de
computador irlandês, a máquina de lavar norte-americana. Grande parte das
empresas brasileiras pertence a investidores estrangeiros. São as chamadas
multinacionais: Ford e Coca-cola (americanas), Volkswagen (alemã), Nestlé
(Suíça), Parmalat (italiana), Philips (holandesa), Volvo (sueca). Algumas
empresas brasileiras têm filiais na Argentina, no Uruguai e até nos EUA. Na
Bolsa de Valores de São Paulo e do Rio de Janeiro são negociadas ações de
empresas brasileiras. Muitas dessas ações são compradas e vendidas por
investidores que jamais passaram no Brasil.
Os avanços da
tecnologia globalizaram as informações e a cultura. Na tevê passam filmes e programas de muitos lugares do mundo. Nas tevês
por assinaturas você pode acessar estrangeiros. Nas rádios e nos cinemas
podemos ver e ouvir o planeta todo. Os microcomputadores estão interligados
internacionalmente pela internet. A linguagem da internet é o inglês. A
importância da Inglaterra no século XIX e dos EUA no século XX fez do inglês
uma língua compreendida em todos os cantos. Os jovens de todos os países se
tornaram muito parecidos: nas roupas, na diversão, nos sonhos de consumo, no
relacionamento pessoal, nas perspectivas.
No passado, a
Igreja tinha o poder de determinar o que era verdade. Nos séculos XIX e XX
muitas pessoas acreditaram que esse poder tinha sido transferido, pelo menos em
parte, para os cientistas. Mas será que no século XXI o poder de determinar a
verdade não estará com a mídia, ou seja, com os grandes meios de comunicação,
especialmente com os jornais e noticiários da televisão e da internet? O padre
e o cientista não teriam dado lugar ao jornalista, ao apresentador, ao
programador virtual?
Sem dúvidas,
surgiram problemas novos e situações. Livre e rápida circulação de capitais e
bens, principalmente nos países subdesenvolvidos. Assim, a
Globalização apresenta aspectos positivos e negativos. Positivos como:
a mundialização dos inventos tecnológicos, a rapidez da informação, a maior a
comunicação entre as culturas, democratização do conhecimento, imediata
informação das descobertas cientificas, maior compreensão e absorção das
culturas estrangeiras e a possibilidade de troca, o que favorece um clima de
curiosidade e tolerância pelas diferenças. Negativos como: a
perversa divisão social entre os “incluídos” socioeconômicos e “excluídos” que
não tem acesso ou compreensão das sofisticadas tecnologias predominantemente
nos países subdesenvolvidos.
FONTES: Almanaque Abril, 2003.
SCHIMDT, Mário. História Crítica, 8ª Série
Imagens: Prof. Fabiano Camargo
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