Pão e Circo, a "massa" ganhou vida!
A mídia, os políticos, o Estado e as elites não entenderam ou fingem não
entender o real significado das recentes manifestações iniciadas pelo estopim representado
pelo aumento no valor das passagens púbicas.
Alguns sociólogos, a todo momento apresentados pelos meios de
comunicação de massa como especialistas, ratificaram esta postura, afirmando
que as manifestações foram motivadas pela melhoria no padrão de vida da
população mais pobre e o surgimento de uma nova classe média.
Dentro desta concepção, o governo teria propiciado a ascensão de
milhares de indivíduos a um novo patamar de consumo e, então, agora esta seria
uma nova etapa pedindo mais (escola, saúde, etc).
Outros, ainda no dia de hoje, dizem que tudo acabou, pois as
reivindicações do “movimento passe livre” já foram atendidas, sendo revogado o
aumento no valor das passagens nos transportes públicos.
Algumas emissoras de TV continuam a alardear que os casos de violência
foram apenas atos de vandalismo.
O mesmo tipo de discurso construído durante outros momentos históricos
em outros espaços, tal como pelo Antigo Regime (a nobreza) quando aconteceu a
Revolução Francesa.
Vãs tentativas de ludibriar a população, as manifestações não tem
liderança, representam um sentimento popular de revolta contra as mazelas
brasileiras, por isto estão ganhando cada vez mais força e mais adeptos pelo
Brasil inteiro, tornando-se mais violentas.
As reais causas dos protestos.
Vivemos em um país onde a desigualdade social é histórica e perdura há
séculos, onde as elites ludibriam as massas com circo e nem sempre pão,
contemporaneamente manipulando a opinião publica através do controle dos meios
de comunicação.
Por esta razão, as elites e seus representantes, ainda não entenderam ou
fingem não entender que o aumento no valor da passagem nos transportes públicos
foi só o estopim, a gota da água que faltava para a passividade do brasileiro
transbordar.
A despeito das manifestações serem compostas principalmente por jovens,
o motivo da revolta envolve as mazelas que indignaram a população de todas as
faixas etárias e segmentos sociais, excetuando é claro os beneficiados pelas
falcatruas.
As elites pensaram que oferecendo o circo simbolizado por copa do mundo
e olimpíadas a massa iria se conformar com a pobreza e a exploração.
Foram os romanos que inventaram a clássica formula: basta oferecer aos
plebeus pão, o mínimo necessário para que não morram de fome, e circo, a luta
de gladiadores onde o povo podia extravasar e canalizar a agressividade causada
pela revolta de ser miserável; para controlar e manobrar a população para que
as elites continuem no poder se beneficiando deste poder para ficar mais ricas.
A formula é antiga e, no Brasil, a massa parece que finalmente entendeu
que estava sendo manipulada, ludibriada na cara dura.
Esta manipulação deslavada é uma das causas que geraram as manifestações
e que, a medida que sofrem a repressão do braço armado do Estado e das elites
(a policia) tendem a se intensificar e tornarem-se mais violentas.
Também é muito antigo a máxima que diz que violência gera violência, o
que vale também para a repressão policial violenta do Estado perante manifestações
que reivindicam causas justas e acumuladas durante séculos no Brasil.
Desde o inicio deste país o contraste social é um problema, existe um
imenso abismo entre pobres e ricos, mesmo a classe média na realidade também
esta inserida neste contexto.
Qual outro país do mundo divide a classe média entre baixa, média e
alta?
Somente no Brasil, justamente por que o que existe aqui é uma maioria
absoluta de pobres contraposta a uma minoria de ricos que só são ricos porque
tiram do resto da população a parcela que lhes cabe da riqueza nacional.
Este abismo entre ricos e pobres é que tem motivado os saques durante as
manifestações, visto que miseráveis, que não tem condições de consumir
eletrodomésticos e outros bens de consumo, percebem no tumulto a oportunidade
de ter aquele objeto do desejo tão almejado de forma rápida e fácil.
Na mente destes a ocasião faz o ladrão, diante de um contexto em que a
justiça, o poder público, não pune aqueles que roubaram milhões ou bilhões do
próprio povo.
Mesmo quando a justiça condena estes corruptos e corruptores, mediante a
pressão popular, a punição é branda ou nunca chega, muitos são até mesmo
reconduzidos ao poder para continuar praticando as mesmas mazelas pelas quais
foram condenados.
As leis são feitas pelas elites para elites, com brechas que somente
podem ser exploradas por aqueles que controlam a máquina judiciária.
Ocorre que os valores roubados pelos corruptos fazem parte do dinheiro
publico, originado a partir dos elevados impostos.
Estes impostos que extorquem a população são um dos mais elevados do
mundo se não os mais elevados.
No entanto, muito pouco do dinheiro pago em impostos retorna em
benefícios para quem pagou, escorre quase tudo pelos diversos buracos
representados pela corrupção e elevados gastos do poder publico para manter a
própria máquina do Estado, principalmente com salários de marajá.
Gerando mais cobranças indevidas que extorquem o povo e reduzem o poder
de consumo, empobrecendo ainda mais os pobres.
No sistema Ecovias, por exemplo, formado pela Anchieta e Imigrantes, o
usuário, o trabalhador que já paga IPVA e outros impostos que deveriam ser
dirigidos à manutenção de um sistema viário de primeiro mundo, são obrigados a
pagar 21,20 reais para transitar por uma via pública.
O trabalhador que mora na Grande São Paulo e trabalha no litoral, é
forçado a gastar 42,40 reis diariamente, ao passo que já paga impostos
justamente para poder ter seu direito de ir e vir do trabalho garantido.
Durante o período eleitoral, todos os partidos políticos sem exceção se
valem de discursos demagógicos e inflamados a fim de captar atenção, argumentam
a respeito das varias soluções para os problemas que envolvem a sociedade, tais
como educação, saúde, segurança, habitação e tantos outros.
O fato é que, depois que ocupam as posições almejadas, tornam-se
negligentes a respeito das necessidades de quem os elegeu, necessidades essas
que os fez chegar ao poder, e dessa forma começam a praticar um tipo de
violência, uma violência que explora, que oprime e que nega direitos.
Os movimentos sociais sempre atuaram de forma fragmentada para a
cobrança e respostas de suas reivindicações ou seja, cada um defendendo a sua
causa estando alheio a tantas outras.
O que possibilita a classe politica se valer do artificio de não atender
a todos os setores da sociedade, fingindo atender, satisfazendo apenas os
interesses das elites.
Podemos dizer então que a massa popular, que sai às ruas, trata-se da
unificação destes vários movimentos sociais, que saíram do discurso e da
diplomacia para uma ação mais objetiva?
Não, a massa que protesta não representa nenhum partido, nem no sentido
de senso comum, tampouco no weberiano.
A massa não tem cara, faz-se notar por constituir um aglomerado de
indivíduos encurralando pelo Estado e pelas elites contra a parede, que passou
a exigir o que lhe é de direito.
As cenas de vandalismo, tão enfatizadas pela mídia elitista, nada mais
são que a violência retribuída, ou melhor, devolvida para os símbolos de poder
opressor, prefeituras, câmaras, congresso nacional e até mesmo bancos e tudo
aquilo que representa a exclusão social.
Em suma, o Estado e as demais formas de poder e opressão se acostumaram
a violentar o povo todos os dias durante anos, logo é totalmente plausível o
descontrole e a fúria do povo, que tem sede de destruição de tudo aquilo que
nunca os representou.
Quem são os manifestantes?
Observando a massa de manifestantes em todos os pontos do país, salta
aos olhos a quantidade expressiva de jovens, estudantes e trabalhadores na
faixa dos 16 aos 20 e poucos anos.
Mas porque os jovens, justamente aqueles com perspectivas de futuro mais
nebuloso e mais distante, iniciaram as manifestações?
O inconformismo é natural da idade, mas é a ausência da possibilidade de
um futuro melhor em longo prazo a motivação principal.
Ao mesmo tempo, a juventude está há alguns anos diante de novos valores
éticos cultivados por um grupo pequeno e heroico de professores, que continuam
na profissão por puro idealismo, visto a desvalorização e desrespeito para com
a categoria por parte do Estado.
As elites sempre manipularam a educação para deixar a população
alienada, sucateando a educação publica básica e confundindo os pais, forçando
a procurarem o ensino privado pensando falsamente em oferecer aos filhos
conteúdo de qualidade, quando na realidade também este setor foi segmentado
para atender de forma dualista ricos e pobres através da legislação
educacional.
Althusser ressaltou que existem mecanismo de controle social
desenvolvidos pelas elites capitalistas para ludibriar as massas, dentre os
quais os Aparelhos de Ideológicos de Estado, tal como a escola, montada para
convencer as pessoas de que a culpa pela pobreza é delas próprias.
Apesar disto, lutando contra as engrenagens da máquina do Estado
elitista neoliberal, professores tomaram como sua missão de vida abrir os olhos
das gerações futuras, fazendo um trabalho de formiguinha que agora aparece,
depois de anos, materializado na figura dos jovens que manifestam a
insatisfação apartidária.
A ideologia destes jovens é simplesmente o ideal ético de busca da
felicidade coletiva, de ver a verdadeira justiça acontecer, aquela que faz um
sujeito querer para os demais o que quer para si mesmo.
Não são desocupados, vagabundos ou baderneiros que estão se
manifestando, são sim jovens trabalhadores que buscam um futuro melhor para
todos, pois os atos começam apenas depois do expediente de trabalho.
Tantas manifestações realizadas durantes mais de cinco horas cada uma,
exige muita disposição física e mental, o que não significa que somente os
jovens são aptos a elas, mesmo por que a classe trabalhadora mais madura se faz
presente e de forma igualmente eficiente.
O que explica os horários de encontro das manifestações que começa
variavelmente às 17 horas.
O papel das redes sociais provou ser uma das principais ferramentas de
mobilização e alcance social da juventude, refletindo um pouco mais a
utilização da internet tornou-se mais legitimo e digno do que a comunicação das
outras mídias de massa sejam elas televisiva, impressa ou radiada, que em
grande parte trata os protesto como uma espécie de “doença civil” ou estado de
anomia, conforme o modelo teórico de Durkheim.
A doença esta presente entre as elites e segmentos que continuam sendo
manipulados.
A massa que manifesta é contra, justamente, os rótulos colocados pelas
elites nas pessoas, rótulos que desrespeitam a vontade de cada um e o que faz
cada individuo feliz sem ferir de forma alguma o espaço ou a busca da
felicidade do outro.
A juventude respeita a diversidade e entende que é salutar a convivência
entre diferentes, caso contrário caminharíamos novamente para trás, veríamos
Estados totalitários de direita renascendo, tal como o nazismo hitlerista.
Concluindo.
Em meio às manifestações as autoridades se calam, nada dizem e somente
jogam a policia, a tropa de choque com balas de borracha e bombas de gás
lacrimogênio, para reprimir a massa.
Os meios de comunicação de massa fingem não entender o que acontece ou
usam de sensacionalismo, gerando a irá de manifestantes que queimam automóveis
de emissoras de TV em demonstração da insatisfação com a maquiagem fantasiosa
que marra os fatos de forma distorcida.
Esperemos que a juventude que tomou a frente nas recentes manifestações
contra as mazelas do Brasil mude a cara deste país.
A massa amorfa finalmente acordou e ganhou vida como um corpo único e
orgânico, apartidário e sem liderança, mas com uma ideologia que prima pela
ética e representa todo o povo brasileiro.
Imagens: Prof. Fabiano Camargo
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